Guterres: “Devemos continuar a combater o racismo em todas as suas formas”
15 abril 2025
Discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da quarta sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes, em 15 de abril de 2025.
Estamos reunidos em um momento de profundos desafios – antigos e novos. Um momento em que as divisões estão crescendo. E os legados do colonialismo e da escravidão continuam a envenenar nosso mundo.
Legenda: Participante da 1ª reunião plenária da quarta sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, em 15 de abril de 2025. O Fórum é organizado pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH).
Ainda somos testemunhas do flagelo do racismo, que prejudica vidas e mancha sociedades. As pessoas de ascendência africana continuam a enfrentar injustiça, exclusão, discriminação sistêmica e violência. E até mesmo a inteligência artificial, que é tão promissora para a humanidade, muitas vezes reflete e amplifica as mesmas desigualdades e preconceitos raciais que nos atormentam há séculos.
O poder está concentrado nas mãos de poucos. E muitas pessoas, países e comunidades continuam sem poder se beneficiar de tudo o que essas tecnologias têm a oferecer.
O Fórum Permanente de Afrodescendentes foi criado para desafiar essas injustiças, ampliar as vozes dos povos de ascendência africana e acelerar o progresso em direção a um mundo de dignidade, justiça e igualdade.
Para atingir esse objetivo, precisamos pressionar por ações em todos os níveis.
Um objetivo fundamental é a necessidade de estruturas de justiça reparatória baseadas na legislação internacional de direitos humanos, desenvolvidas com a participação inclusiva e significativa das comunidades afetadas, que reconheçam os terríveis danos e injustiças causados e suas contínuas manifestações e ramificações, e que reparem os erros do passado.
Precisamos eliminar o preconceito da inteligência artificial e garantir que essas tecnologias promovam a igualdade, a inclusão e a justiça digital, inclusive cumprindo os compromissos do Pacto Digital Global acordados no ano passado e investindo no desenvolvimento de capacidades para garantir que as pessoas de ascendência africana possam moldar, construir e governar as tecnologias de IA.
Devemos continuar a combater o racismo em todas as suas formas, especialmente quando ele está incorporado em leis, políticas e instituições.
Todos nós temos a responsabilidade de fazer a nossa parte – organizações internacionais, governos, empresas e indivíduos – e de impulsionar a ação durante esta Segunda Década Internacional dos Afrodescendentes.
Em especial, exorto todos os países a cumprirem seus compromissos com a Declaração e o Programa de Ação de Durban – o modelo para combater o racismo, a discriminação racial e a intolerância.
Juntos, com coragem e determinação, vamos avançar em direção a um mundo onde os direitos humanos das pessoas afrodescendentes sejam totalmente respeitados, protegidos e cumpridos.